quinta-feira, 1 de março de 2018

CONTROLAR OU SER CONTROLADO



* Honório de Medeiros


Não é fácil compreender que o capitalismo é um subsistema (um fato), e o socialismo uma ideologia.


A outra face ideológica do socialismo é o liberalismo, mas ambos são produto do subsistema que é o capitalismo.

O capitalismo, que é um fato, como dito acima, engendra soluções adaptativas para se manter e/ou ampliar seu espaço. Uma delas é a criação de instrumentos ideológicos, como o Estado, por intermédio dos quais os homens são manipulados em suas circunstâncias de vida específicas.

Tampouco é fácil compreender a ontologia de um sistema. Desde a "Teoria Geral dos Sistemas", de Ludwig von Bertanlaffy, que "a besta", como ele a denomina, preenche o tempo dos estudiosos de todos os campos do conhecimento, desde a virologia à linguagem de programação dos computadores quânticos, passando pelas ciências ditas sociais.

Embora compreender o que é um sistema não seja fácil, não é tão difícil perceber que tudo quanto nos cerca é uma realidade em processo, um sistema dinâmico.

Basta ler, por exemplo, "Emergence (The Connected Lives of Ants, Brains, Cities and Software)" de Steven Johnson, que a tradutora optou por traduzir como "Emergência (A dinâmica de rede em formigas, cérebros, cidades e softwares).

Do quê trata Johnson em seu livro? Em síntese: do surgimento de complexos sistemas adaptativos, tais como formigueiros, cérebros, cidades, softwares, e assim por diante.

"O que une esses diferentes fenômenos é uma forma e um padrão recorrentes: uma rede de auto-organização, de agentes dessemelhantes que inadvertidamente criam uma ordem de nível mais alto", diz ele.

Leia http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2016/09/de-formigas-cerebros-cidades-e-softwares.html, no qual faço um resumo da obra de Johnson.

Johnson chama esse tipo de "surgimento", no qual um organismo complexo pode aparecer sem que haja um líder para planejar e dar ordens, sem hierarquia e comando, via a "mão invisível e fantasmagórica da auto-organização", de "comportamento emergente".

As raízes dessa densa teoria repousam no solo fértil do pensamento de Adam Smith, Charles Darwin, Alan Turing e, embora não citado pelo autor, Ilya Prigogine e sua teoria do caos e do atractor. 

E, claro, em Richard Dawkins e seu antológico último capítulo de "O Gene Egoista", no qual propõe a teoria do "meme" que, por si só é um "meme", esse inesperado momento zero do surgimento de um novo subsistema cultural dentro de outro maior.

Pois bem, enquanto tais discussões ocupam o tempo e o pensamento da vanguarda da ciência, os homens ainda se ocupam em tentar firmar um debate de natureza ideológica entre socialismo e capitalismo. Nada mais arcaico.

Aliás, nada tão arcaico quanto a produção intelectual na área de ciências sociais. Ou ciências humanas, que podem ser humanas, mas não ciências. 

Mal sabem eles, os que produzem enclausurados por esse falso dilema, que a apropriação da mais-valia produzida pelo homem, esse fato inerente ao subsistema capitalista, existe sob qualquer ideologia, sob qualquer bandeira, sob qualquer credo.

O que difere, de um para o outro, é o conto-da-carochinha com o qual o homem será enganado por aqueles que pensam controlar as circunstâncias, a realidade, quando na verdade por elas são controlados.