quarta-feira, 22 de novembro de 2017

CABÉ, O PRIMEIRO CANGACEIRO NO RIO GRANDE DO NORTE E PRECURSOR DE JESUÍNO BRILHANTE (2)

Honório de Medeiros
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Se o “Termo de Casamento” informa que José Brilhante estava em Martins, no Sítio Retiro, no dia 25 de novembro de 1841, com dezessete para dezoito anos, o jornal “O Cearense”, datado de 22 de abril de 1850 lhe situa, aos vinte e cinco para vinte e seis anos, em Vila Viçosa, na Serra do Ibiapaba, Ceará, metido em uma confusão acontecida em março de 1849 , da qual resultou a morte de João da Costa Silva, José Francisco de Barros, e Vicente Alves Ferreira, todos inimigos seus.

Esse acontecimento será fundamental na vida de José Brilhante e provavelmente originou-se por questões políticas, vez que a versão do “Cearense”, jornal ligado ao Partido Liberal, era contrária a do “D. Pedro II”, ligado ao Partido Conservador, que seguia o Governo Imperial.

Da sua leitura depreende-se que “Cabé” era Liberal, assim como os Alves Calado no Rio Grande do Norte.

Para situar “Cabé” no contexto político de sua época, segue texto da “HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE” :

“Nas Províncias , como reflexo das idéias e tendências desses partidos nacionais , os partidos políticos se uniam em dois agrupamentos: Nortistas (também chamados de saquaremas) e Sulistas (ou Luzias). Essas denominações locais de nortistas e sulistas, ou saquaremas e luzias, como também eram usadas, não significavam, todavia, organizações homogêneas. Com programas semelhantes e processos idênticos, não possuiam nenhuma característica fundamental. A atuação política dos mesmos estendeu-se até 1853, quando começaram a desaparecer, após a política de conciliação. As denominações locais, foram, então, pelos nomes dos partidos Conservador (originado do Nortista) e Liberal (originado do Sulista), que se mantiveram até a queda do Império.”

No mesmo ano de 1850 “Cabé” já está em Maioridade, ou seja, Martins, fugindo dos problemas existentes no Ceará, como escrivão do crime, cível e órfãos, nomeado pelo suplente de Juiz Municipal, este pessoa do Presidente João Carlos Wanderley, informa-nos o jornal “A União”, de Pernambuco, datado de 7 de setembro.

 O juiz titular da Comarca era Amaro Bezerra Cavalcanti, que estava afastado do cargo, “refugiado em um cantinho remoto da Comarca”. Como João Carlos Wanderley governou de março a maio de 1850, é nesse período que ocorre a nomeação.

É o primeiro embate entre José Brilhante, “Sulista”, e Amaro Cavalcanti, “Nortista”.

Não se pode confundir esse Amaro Cavalcanti, na verdade Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti, nascido em Pernambuco, em 15 de janeiro de 1825, com Amaro Cavalcanti, nascido em Caicó, em 15 de agosto de 1849. Este último foi irmão de Padre João Maria e Ministro da Justiça e Negócios Interiores do Governo Prudente de Morais. O primeiro foi Deputado Provincial em várias legislaturas e prestou relevantes serviços à campanha abolicionista, mas deixou a cena política com a proclamação do regime republicano.

Em Maioridade, diz o jornal, “Cabé”, tão logo chegou, matou um soldado do destacamento local e um paisano. Ocorreu assim: o Presidente da Província do Rio Grande do Norte, ao saber que José Brilhante era “criminoso de três mortes, mandou um reservado ao comandante do Destacamento dali para o prender”. “Cabé” matou o soldado do Destacamento e o paisano que o Comandante mandara para observar a gente que ele tinha consigo.

Em 26 de setembro do mesmo ano o jornal “A União” continuou a dar notícia das estripulias de José Brilhante:

“Consta-nos ainda da Comarca de Maioridade que o facínora José Brilhante de Alencar, ali escrivão do cível e órfãos, por nomeação dos agentes do célebre João Carlos Wanderley, depois de haver, no exercício desse cargo, além de outras muitas depredações , violentamente extorquido a um cidadão que procedia o inventário de sua falecida mulher” (...) “depois de haver se retirado para fora da cidade em conseqüência das ordens terminantes de Sua Excelência , para que fosse preso por ter certeza de seus crimes, e reunindo em torno de si muitos facínoras armados”(...) “no meio deles entrou pela cidade em busca do Tenente para o assassinar, escapando ele felizmente de ser vítima! Queria dest’arte vingar a dúplice ofensa de haver ele tentado prendê-lo de ordem do Presidente da Província...”


Foi nessa época que “Cabé” descobriu, no “Cajueiro”, a “Casa de Pedra”, refúgio depois famoso pelo uso que lhe fez Jesuíno, seu sobrinho.

CONTINUA...

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