sexta-feira, 17 de novembro de 2017

24 ANDARES EM UM PRÉDIO DE OITO

Guweiz (*)

* Bárbara de Medeiros

Essa madrugada me toquei da verdade de duas frases distintas sobre a profissão de escritor:

1. Escrever é se apaixonar.
Constantemente. O tempo todo. Por todos, por tudo, por qualquer coisa, por nada em particular.

2. Escrever é necessidade, não lazer ou ganha-pão. Descobri que escrever não é o remédio para as minhas noites insones, mas a causa delas, porque se não consigo dormir é porque algo me incomoda, e se algo me incomoda, é porque ainda não escrevi a respeito.

Eu tenho muitas noites insones, e estranhamente me pego desejando para que elas sejam infinitas.

Eu amo dormir.

Sempre me disseram que os escritores são todos loucos, afinal (número três).

Essa madrugada quero falar sobre os quase amores.

Você sabe do que estou falando.

Aqueles que nunca chegaram a ser apresentados como namorados ou namoradas, aqueles que nunca chegaram a ter o prazer – e o desafio – de explorarem cada centímetro do seu corpo e mente, aqueles que, afinal, não tiveram o tempo ou a oportunidade, ou a vontade, Bárbara, lembre-se disso, de se tornarem algo mais.

Mas você se pega desejando, na calada da noite, pelo “e se” e pelo “quase”,  e por aquele que nunca será nada mais do que um desconhecido, porque ele nunca se permitiu ser visto. E eu, que sou A Mais Curiosa Das Curiosas, analiso todas as mensagens trocadas por olhares, toques superficiais (que atingiam até os nervos mais profundos) e whats app, porque quem sabe explicar o que se esconde por trás da mente de outro ser humano?

Eu insisto e pergunto a todos o que eles escondem, sutilmente, mas acabo tendo de completar a história deles na minha mente. Ninguém nunca confiou em mim o suficiente pra me dizer.

Eu nunca confiei em ninguém o suficiente pra dizer que, todas as noites, deito na cama e contemplo o abismo.

Tenho certeza que alguns sabem, outros desconfiam, mas de que adianta se eu nunca pronunciei as palavras?

Mais cedo, assisti à noite cair e as luzes da cidade se acenderem, três ao mesmo tempo em um prédio, duas se apagaram em outro, e a sinfonia silenciosa continuou tocando por horas, tão ensurdecedora que eu pensei que estava, realmente, surda.

É melhor partir – penso eu – do que viver me perguntando o que se esconde na casa ao lado.

É melhor fugir, insisto comigo mesma, porque você nunca vai descobrir o medo mais profundo do seu professor de matemática da sétima série.

É melhor desistir, porque ela disse isso pra você e aos onze, você achou que era verdade.

JÁ FAZ SETE ANOS.

ESQUECE ISSO.

Acredite, é difícil.

É melhor render-se, afinal.

Porque tem tanta gente sofrendo no mundo, e eu sinto tudo, e eu quero chorar.

E é tanta solidão, tanta confusão, eu não sei nem por onde começar.

E eu tento ser feliz, eu juro.

Eu tento ser otimista, é sério.

Mas é tão, tão difícil quando você olha pra todos os carros passando depressa, sentada na beirada do último andar do seu edifício.

E aquele cara nunca vai saber que é a música dele que, todas as noites, lhe impede de voar. 

Arte:  https://guweiz.deviantart.com/

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