domingo, 14 de maio de 2017

UMA MULHER ALTIVA


* Honório de Medeiros

​​Eu pegava as mãos calosas de minha mãe e lhe perguntava: "como pode"? Ela, pela milésima vez falava: "foi algo que eu não sei explicar. Mas sua avó nada podia fazer a não ser olhar com aqueles olhos tristes de quem tudo perdoa por tudo compreender. Que posso lhe dizer? Me encantei por aqueles olhos verdes, aquele sorriso, e fui com ele. Movi céus e terras, enfrentei a família, e fui feliz. Chorei muitas lágrimas pelo que não pude lhes oferecer, mas nunca chorei qualquer lágrima pela escolha que fiz." Eu apertava sua mão e lhe fazia uma ligeira cócega na palma, que ela afastava como se tivesse vergonha da dureza de sua pele, antes tão aveludada. Meu pai tudo escutava calado. Nunca soube o que se passava no seu pensamento. Um sorriso enigmático bailava em seu rosto. Talvez estivesse pensando no contraste entre a pobreza que deixara para trás, a pé, tantos anos antes, e a lembrança da beleza daquela mulher, quando jovem, que decidira tudo largar para acompanhá-lo sem deixar a altivez de lado.

Nenhum comentário: