sábado, 3 de outubro de 2015

DO PERMANENTE NO IMPERMANENTE

Musashi

* Honório de Medeiros

No monumental "Musashi", de Eijy Yoshikawa, o "santo da espada" diz: "Ao mesmo tempo, um jovem tem o péssimo hábito de achar que não pode realizar seus sonhos no lugar onde está, e de sempre buscá-los por caminhos distantes. Grande parte dos preciosos dias da juventude se perde nessa insatisfação."

Lembrei-me, então, de um trecho há muito tempo lido em Sêneca. Está no "Da Tranquilidade da Alma": "Uma coisa sucede a outra, e os espetáculos se transformam em outros espetáculos, Como disse Lucrécio: 'Desse modo, cada um foge de si mesmo'. Mas em que isso é proveitoso, se, de fato, não se foge? Seguimos a nós mesmos e não conseguimos jamais nos desembaraçar de nossa própria companhia."

Ou seja, busquemos o permanente no impermanente.

Em tempos de "vida líquida", como a denomina Bauman, no qual o evanescente é a essência das coisas, buscar o permanente no impermanente pode parecer uma quimera arcaica. 

Entretanto se não nos dedicamos a tal por intermédio do submergir em si mesmo, outra coisa não fazemos quando investimos no conhecimento que nos possa trazer o Grande Colisor de Hádrons. 

Lá os cientistas buscam exatamente essa quimera arcaica ao fragmentar a tessitura da realidade.

O que acontecerá quando tudo for compreendido?

terça-feira, 29 de setembro de 2015

INATO OU ADQUIRIDO?


* Honório de Medeiros

Quem leu "A Tempestade", de Shakespeare, ou a assistiu, conhece o célebre jogo de palavras:

"É um demônio, um demônio de nascença, / em cuja natureza jamais pôde atuar a educação."

O solilóquio completo de Próspero é o seguinte:

"É um demônio, um demônio de nascença, em cuja natureza jamais pôde atuar a educação. Foram perdidos todos os meus esforços; sim, perdido completamente, sempre, quanto hei feito a ele por amor à humanidade. Seu corpo com a idade fica hediondo e cada vez mais ulcerado o espírito. Atormentá-los vou até que rujam."

Eis como a arte antecede a ciência. 

A essência desse solilóquio é aquela da filosofia: "inato ou adquirido?"

Richard Dawkins a descreve assim, em "Fome de Saber", o volume 1 de suas memórias: "Os filósofos vêm pelos séculos afora refletindo sobre essa questão. Quando do que sabemos é embutido de forma inata, e até que ponto a mente é uma tábula rasa, à espera de que algo seja escrito nela, como acreditava John Locke?"

Karl Popper encaminhou seu gênio para resolver essa questão. É a medula de sua epistemologia. Aliás, até onde sei, o termo "tábula rasa" foi criação dele.

Muito interessante esse jogo de conectar idéias oriundas de diversas fontes. Shakespeare, Locke, Popper, Dawkins...

* Arte: www.mallarmargens.com