quarta-feira, 5 de junho de 2013

QUANTO AO MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO ACERCA DO CANGAÇO

Honório de Medeiros


                   Em Setembro, no Cariri Cangaço, se conseguir coletar o restante das informações que eu busco, lanço “Porque Lampião Invadiu Mossoró?”
                   Nesse livro apresento o resultado de uma investigação que culminou na constatação de que existem quatro hipóteses básicas acerca dos motivos pelos quais  houve a invasão.
                   Analiso cada uma dessas hipóteses e mostro os prós e os contras delas deixando, no final, ao critério do leitor, a opção de escolher aquela que considere mais verossímil.
                   Sem falsa modéstia, considero que se trata de uma boa investigação. Caso fosse jornalista, eu denominaria esse trabalho de “jornalismo investigativo”. Como não o sou, deixo aos que o lerem a tarefa de estabelecer seu enquadramento literário, se for o caso.
                   Mas e o que tem esse livro, do qual indiretamente, mas sem malícia, estou fazendo a propaganda, com o tema a ser abordado e debatido, em Sousa, na Paraíba de Chico Pereira, na “avant-première” do Cariri Cangaço 2013, para o qual fomos convidados a participar pela gentileza sem par do historiador e mestre Wescley Rodrigues?
                   É que desde o início da minha investigação, chamemo-la assim, eu me propus aplicar com denodo uma máxima, um aforismo, no sentido francês do termo, que expressa uma postura metodológica em relação ao tema investigado.
                   Seria entediante, talvez, aqui, expor sua matriz filosófica. Registro, entretanto, que ela é corolário da epistemologia de Gaston Bachelard e Karl Raymund Popper que, nesse campo específico, têm mais semelhança entre si do que se possa supor.
                   Pois bem, a máxima é a seguinte: fazemos a investigação avançar não pelas verdades que descobrirmos, mas pelas que refutarmos.
                   Observem que há uma roupagem retórica na máxima exposta. Tecnicamente deveríamos dizer: “fazemos a investigação avançar não pelas verdades que encontrarmos, mas, sim, pelas pseudo-verdades que refutarmos. Podemos não vir a saber com certeza o que algo é, mas podemos vir a saber com certeza o que algo não é.
                   Trocando em miúdos, o que quero dizer é o seguinte: a nossa preocupação, na investigação, deve ser muito mais no sentido de excluir o entulho que nos afasta da compreensão do fato. Quanto mais entulho afastarmos, mais próximos estaremos de nosso objetivo.
                   No que diz respeito à invasão de Mossoró por Lampião, assim procedi, preocupado, principalmente, com a hipótese que atribui à ganância de Lampião e Massilon a realização do ataque. Essa hipótese é a mais corriqueira, é aquela sacramentada pelo senso comum.
Em todas as hipóteses acerca dos supostos motivos da invasão, portanto, também apliquei o que denominei de crítica metódica, para afastar as pseudo-verdades que embaraçavam a compreensão da realidade por trás das aparências.
Ou seja, busquei, firmemente, encontrar e apontar irregularidades, incongruências, desarmonias, inverossimilhanças, tudo quanto me permitisse desconstruir, refutar cada uma das hipóteses existentes em relação à junho de 1927, para ser possível alcançar alguma luz no fim do túnel.
Há uma forma, uma maneira, um meio de aplicar a crítica metódica, que passa pela utilização de uma técnica do jornalismo investigativo aliada à utilização de alguns critérios de natureza lógica. Nada complexo e que não possa ser manejado por qualquer pesquisador.
Assim cheguei ao resultado que o livro apresentará. Não concluo, entretanto. Deixo em aberto. É uma obra aberta. Isso por uma razão muito simples: meu trabalho não é científico, no sentido estrito do termo, vez que não foi possível colher provas que sustentassem uma teoria.
Há indícios, e muitos. Há o trabalho de relacionar esses indícios, dar-lhes unidade, coerência, criar uma malha de conteúdo indagativo e explicativo razoavelmente bem tecida, que talvez seja o que de valioso exista no trabalho a ser apresentado.

Para o futuro pretendo usar esse mesmo método no que diz respeito ao estudo das causas do surgimento do cangaço. Há várias teorias quanto a essas causas. Uma delas, facilmente refutável, aponta como causa do surgimento do cangaço a luta de classes.
Voltando ao tema da mesa-redonda, penso que devemos tentar o estudo dos fatos do cangaço em uma perspectiva mais densa, mais apropriada academicamente, como está sendo feita aqui e agora. E somente podemos fazê-lo se tivermos essa preocupação com o método da investigação.
Isso por várias razões, dentre elas evitar que o estudo do cangaço suscite comentários como o que recebi, recentemente, após ser postado um texto meu acerca da realização da mesa-redonda de Sousa em um dos maiores blogs do Rio Grande do Norte, do jornalista Carlos Santos, que nos gratifica hoje com sua presença.
O comentário dizia o seguinte, textualmente: “Em pleno século 21 ainda se fala de um coisa tão irrelevante e inexpressiva! Tantos assuntos importantes a serem questionados. Esse tipo de assunto é para ser apagado da história diante a sua insignificância”.
Um absurdo, mas a ignorância gera esse tipo de juízo de valor.
Então, para concluir, creio que devemos criticar, no bom sentido, os métodos ou a falta de métodos, no estudo dos fatos do cangaço, para ultrapassarmos, de vez, sua folclorização, no sentido negativo do termo, e esse viés preconceituoso, em relação ao tema, por parte de parcela da academia e da população.
E, mais para o futuro, quem sabe evitarmos que se dê guarida, pelo menos no seio das pessoas mais esclarecidas, a bizarrices como as do homossexualismo entre cangaceiros ou o heroísmo de Lampião.

Um comentário:

Kiko Monteiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.