domingo, 12 de dezembro de 2010

PSICOLOGIA EVOLUTIVA

Hieronymus Bosch

Honório de Medeiros

Apesar da chamada “teoria do design inteligente”, que diz ser insuficiente o darwinismo enquanto explicação para o surgimento e propagação da vida na terra, e depois de abençoada por Sua Santidade o Papa, a verdade é que a teoria da evolução vai, aos poucos, se firmando como a única das macro-teorias oriundas do século XIX que sobrevive integralmente às críticas da comunidade científica. As outras, como a psicanálise, nunca recebeu “status” científico; o marxismo ruiu com o muro de Berlim e permanece por terra; e a teoria da relatividade, de Einstein, não conseguiu superar suas divergências fundamentais com a física quântica.

Um dos rebentos mais interessantes do darwinismo, chamemo-lo assim, é a psicologia evolutiva. Como se pode depreender, trata-se de uma tentativa de explicação da psique humana utilizando-se as ferramentas próprias da teoria da evolução. Neste campo específico, nada tem suscitado tanto debate quanto às afirmações feitas pela psicologia evolutiva quanto a amor e sexo. Por exemplo: a psicologia evolutiva explica que a traição, por parte do homem, é uma herança genética que o impele à tentativa de disseminar seus genes! Isso é algo ancestral – na aurora da história do homem, quando ele vagava pela terra caçando e coletando raízes e frutas, foram selecionados para sobreviver aqueles que tinham esse tipo de comportamento; quanto mais braços para a defesa e a procura de alimentos, melhor para a tribo. A mulher, por outro lado, como era obrigada a conduzir, durante nove meses, sua gravidez, ficava estética e organicamente inviável para o jogo sexual, o que abria o espaço para a fecundação de outras.

Essa propensão, diz a teoria da evolução, não é um fatalismo, até mesmo por que o homem que reina inconteste em pleno século XXI, para o bem ou para o mal, foi capaz de construir um aparato intelectual que lhe permitiu fazer opções de caráter ético fundamentais para assegurar sua sobrevivência. Nesse sentido a moral é uma estratégia humana, uma espécie de instrumento adaptativo que lhe permite continuar sua saga sobre a face da Terra. Ou seja, embora haja essa tendência individualmente falando, enquanto espécie o homem aposta na fidelidade. Não é assim que acontece se prestarmos bem atenção ao que se passa ao nosso redor?

Dessa forma a psicologia evolutiva explica muitas condutas masculinas e femininas. Uma delas, bastante curiosa, por sinal, é a chamada “Síndrome da Rejeição”. Por que a mulher, por exemplo, parece se interessar mais pelos homens que a rejeitam? A resposta seria que a mulher, programada geneticamente para lidar com o interesse masculino, ao sentir-se desprezada, sente ameaçada sua capacidade de interessar sexualmente e, assim, procriar. Isso por que nosso objetivo básico, segundo a teoria da evolução, é propagar nossos genes. Esta teoria não explica nosso amor desmesurado por nossos filhos?

Se forem polêmicas as afirmações feitas pela psicologia evolutiva no que diz respeito ao relacionamento amoroso, imaginem o que não se discute quanto à política, mais especificamente ao Poder. Esta, entretanto, já é outra história.